terça-feira, 29 de março de 2011

A vida no Japao mudou para mim,diante dessa tragedia toda que esta acontecendo por aqui,da percepcao diferente das pessoas,da dor,das decepcoes,das raivas e alegrias,de tudo que estou vendo e vivendo eu estou mudando.Consigo perceber o quanto fui egoista e maldosa muitas vezes,tbem o quanto fui boa e solidaria em outras,to fazendo um balanco e tentando mudar para melhor.Confesso que eh dificil mudar essa minha autoconfianca exagerada,de smepre achar que estou certa e pronto,mas reconhecer isso ja eh muito bom.
A prova disso eh que me segurei pra nao escrever posts detonando a comunidade brasileira que vive no Japao,nao toda ela claro,mas muitas pessoas estao ao meu ver comprando o passe pro inferno sem direito a volta com a total falta de senso e imbecilidade a todo vapor com as atitudes  diante da situacao de hoje.Parei,nao vou falar antes de ter mais provas rssss.
Meu marido voltou essa madrugada de Miyagi,ele foi com alguns amigos levar doacoes e sentir a situacao dos desabrigados estando ao lado deles,isso eh super valido,apesar de o governo japones ser megaultra organizado e nao deixar as pessoas irem aos lugares afetados sem autorizacao,com horarios,dias e regras ditadas previamente segurados,eles foram,nao entendi ainda se tinham mesmo autorizacao pq ele me contou que foram a varios abrigos,andaram a beira do mar passando por todos aqueles lugares que deram ao youtube os maiores videos de cenas de terror veridicos ja vistos.
Eu me sinto com medo,pq nada temos a fazer,a qualquer momento pode acontecer a mesma coisa ou pior aqui na minha cidade,sempre soube disso volto a dizer,mas como isso tudo esta muito perto se tornou muito real pra mim.
Meu marido nao tirou fotos nem fez videos dramaticos,em primeiro lugar pq ele nao gosta mesmo disso e soh levou uma camera pequena por minha insistencia,em segundo pq os locais estao super monitorados pela policia,pelo exercito japones,que controla os paparazis interessados em mostrar oque todo mundo ja sabe,os lugares estao destruidos,em terceiro pq chegando la,ele me disse que da tanta tristeza,tanto medo,tanto desespero que realmente nao pensou nem queria ter mais provas do que estava vendo,isso ja ficara na mente dele para sempre,nao precisa provar nada pra ninguem(confesso que eu queria),em quarto pq muitas pessoas dos abrigos pediram isso a eles,que nao tirassem fotos da fraqueza dos japoneses,eles nao gostam,nao pq sao orgulhosos,oque muitas pessoas pensam,mas pq eles querem ficar fortes pra reverter essa situacao,e quando se mostram fragieis,as pessoas tendem a ficar tao fracas qto eles em primeiro impacto,pela tristeza que isso passa,energia ruim traz energia ruim em primeiro instante,mais ou menos isso que entendi ele dizer.
Nao eh dificil de constatar isso assistindo tv(japonesa viu brasileiros do Japao),as mensagens das pessoas que estao nos abrigos,ou nas areas afetadas sao desde o comeco essa,"Nao se preocupem,Obrigada,estamos vivos,Obrigado,ficaremos bem,obrigada,continuem ajudando,Obrigado".Eh basicamente isso,os japoneses estao assustadissimos e com medo mas nao querem ser o povo coitado,apesar de ser no momento,eles querem eh ajuda pra se reerguer e isso pedem ao mundo,que nao soh chorem por eles,que facam alguma coisa alem de lamentar,prever futuro,ou procurar culpados,que se previnam e cuidem do seu proximo,eh isso.
Eu continuo dizendo que a preocupacao com a situacao das usinas de Fukushima eh seria,a todo momento vem as noticias de la e nunca sao satisfatorias,apesar de ter confianca nas pessoas que estao cuidando disso,tenho claro ainda muito medo de algo maior acontecer,mas continuo dando muito mais enfase ao que esta acontecendo agora,a prioridade continua sendo encontrar meios de ajudar os desabrigados.
Nao posso deixar de dizer aqui uma coisa que meu marido me relatou,o ultimo abrigo que eles estiveram era um predio de tres andares e haviam muitas pessoas que estavam no ultimo andar desde o dia do terremoto e nao desciam de la por nada,estavam totalmente traumatizados ainda,diziam pra eles que nao podiam descer pq o tsunami ia vir,a maioria eram velhinhos,alias,acho que ja percebemos que as regioes afetadas foram em sua maioria lugares de pescadores,vilarejos onde moravam muitas pessoas idosas,e por outro lado ele viu pessoas super dispostas a reconstruir,querem fazer suas casas de novo,no mesmo lugar,pessoas que abracavam eles quando passavam,sim,pq soh quem mora aqui sabe que o povo japones nao se abraca muito exceto em horas de extremo sentimento,nao que isso mostre um povo frio,mas sim,um povo controlado,um povo que demonstra amor,gratidao,tristeza atraves da forma como faz sua vida,o beijo,o abraco,o te amo eh dado sem que outras pessoas percebam,vejam,nao sei explicar,soh morando aqui para saber.E continuando,muitas pessoas choraram qdo eles disseram que iam embora,pediam pra ficar,pq alem deles,estavam la a uma semana alguns outros paquistaneses e bangladeshs(nativos de bangladesh=?????)e eles conversavam,tocavam as pessoas,deram um outro tipo de amor,esse que falei que japoneses fazem de outra forma,e isso pareceu importante a alguns,por isso choraram,e todos choraram juntos,bateram palmas qdo eles estavam indo,agradecendo,meu marido me contou que foram embora arrasados pq nao podiam mais ficar la,seriam mais pessoas para comer,dormir,as doacoes que levaram era pro abrigo,nao podiam usar nada para eles,os lugares ja estao todos em"ordem",os mantimentos estao chegando bem,nao tem mais oque fazer alem de esperar construr casas provisorias para essas pessoas entao comecarem a se sentir de novo normais vivendo cada um no que eh seu,no seu espaco.Nao esquecendo das pessoas que perderam filhos,pai,mae,irmaos,das que estao sozinhas,que perderam tudo e todos e soh sobrou mesmo a vida dela propria,da velhinha de 90 e poucos anos que estava la sozinha mas querendo saber logo quando vai voltar pra casa,precisava comecar logo a refazer a vida.
Eu tinha dito ao meu marido que se tivesse alguem,alguma familia que quisesse sair de la pra trazer pra nossa casa,pelo menos teriam uma casa normal pelo tempo ate conseguirem se virar sem ajuda,enfim,bobeira minha,ninguem iria sair de la com um estranho de outro pais,eles la eram como amigos que podiam abracar e tocar,fora de la,estranhos,entendo.Lembrei de Haiti,onde muitos estrangeiros ou mesmo pessoas locais,iam nos lugares afetados pelo terremoto e pegavam criancas que pareciam orfas,qtas criancas,pessoas sumiram e sabem se la pra onde foram,se morreram mesmo no terremoto ou se foram raptadas por bandidos que as venderam pra familias de outros lugares.Enfim,exageros ou nao,os japoneses nao podem deixar oque ja foi horrivel ficar pior.
Esse final de semana que passou teve arrecadacoes nas prefeituras da minha cidade,tinha horario certo pra ir levar as coisas e eram 9 itens certos,somente esses,pq o governo faz uma avaliacao e separa certinho oque e de onde virao as doacoes pra ficar tudo organizado,dar menos trabalho e nao ficar com menos ou mais coisas mal distribuidas,dai vc "ouve"pessoas dizendo que foi levar doacao e eles nao quiseram receber soh pq nao era oque pediam,que foram levar bicicleta quebrada e eles nao quiseram aceitar,ohhhh,na situacao que estao nao podem rejeitar nada,"era soh mandar arrumar e dava pra usar",e tantas coisas,afffff,imagina se a prefeitura diz que ta aceitando tudo,oque ia chegar de entulho la,ate separar,arrumar,ver oque da pra aproveitar,nessa hora de emergencia nao da,o povo nao entende isso,queriam ir la todos em carreata levar doces,brinquedos, biblias pras pessoas,entendo,super valido,mas nao nessa hora,entendam as prioridades,eu confio no governo,acho que o ultimo discurso do ministro foi bem claro nesse ponto,"Não irei pedir para que individuais e lares carreguem o fardo causado pelo terremoto e tsunami. O fardo deve ser compartilhado por toda a sociedade e nação. Eu desejo fortemente que meus caros cidadãos irão mais e mais ficar unidos para podermos transpor a crise em que vivemos e caminhar para o caminho da reconstrução. Esta é minha mensagem ao público.

5 comentários:

Andreza Gomes disse...

Oie Mel

realmente diante de uma tragédia desse porte passamos a repensar alguns valores e sente-se uma vontade imensa de mudar e isso é bom sabe.

Muitas vezes acreditamos que estamos certas por sermos fortes e determinadas e nem todo mundo é assim, mas diante da incerteza e da insegurança tudo isso torna-se tao pequeno e insignificante.

Muito bonita a atitude do teu marido em ir até lá solidarizar-se com as pessoas que vivera momentos de horror e que precisam tanto de apoio e ele tá certo em tirar fotos ou filmar pq nao seria bom explorar tanta dor e sofrimento.

Que Deus ilumine o japao e que abençoe tua família e te ilumine e guie nesse teu momento de querer mudar e tornar-se uma pessoa melhor.

bjiimm e fica com Deus

Anônimo disse...

mto bom esse post! um desabafo pra lá de valioso.
aqui o governo pediu: levem cobertores e quem puder água em caixa com 6 garrafas.
Dai aparece nego com gaiola, paçoca, bicicleta velha, rádio sem pilha, etc. O pessoal da prefeitura não aceita e pronto: começa um show de "é preconceito, é discriminação contra estrangeiro". Eu fico bobo, mesmo quando a pessoa quer ajudar, ela atrapalha!

adorei seu post!

Mel disse...

Andrezza querida,obrigada sempre pela forca,continue trocendo por nos,pelo mundo mesmo,precisamos muito.
Alexandre,que honra ter um comentario seu aqui no meu blog,rss,fiquei ate emocionada uauuuuu!
Mas olha,eu dei muita risada imaginando a cena das pacocas e gaiolas kkkkk,eh bom ter um bom humor nessas horas nenao???Obrigada pela forca,continuarei te seguindo la no blog,que alias,eh o best the best do Japao,ja votei em vc viu.

Debys Padovan disse...

Oi querida, li seus post e fiquei com uma dor no coracao, mas sempre digo para todos que aqui estao no Brasil, eles vao se superar logo td isto, vao recosntruir a cidade da mesma forma q foi destruida, Jp é um país muito forte, apesar de ser pequeno, eu amo ai, qdo vim embora, vim com o coracao partido e ate hj ele esta assim partido, mesmo com todo esta situacão, voltaria trankilamente para o Jp, o país organizado, aki cada dia q eu assisto TV, fico mais horrorizada com a roubalheira, os bandidos, o jeitinho brasileiro q chega dar nojo, mas muita raiva, mas enfim, aqui estou eu tentando me adaptar ainda, e olha q ja vai fazer dois anos, e nao consegui, o me segura q estou na parte q parece ser um pouco mais civilizado, mas aqui fica minhas orações, sempre rezo, e sei q vao conseguir superar, Bjos amiga, saudades viu, de td e de todos...Debys!!!

drika disse...

parabens pra kashif e paquistaneses bangladesh!! Deus abençoe muito vcs!!